O baú

Pessoa, ao longo de sua vida, guardou mais de 27 mil folhas de papel em um grande baú. Lá estavam poesias, prosas, peças, textos de filosofia, críticas em manuscritos indecifráveis ou datilografados em papel timbrado dos escritórios em que trabalhou.

Hoje guardados na Biblioteca Nacional de Lisboa, muitos desses documentos serviram de base para livros publicados após a morte do poeta – parte do material continua inédita.

 

Baú original onde foram encontrados os escritos de Fernando Pessoa

Baú original onde foram encontrados os escritos de Fernando Pessoa

Ninguém tinha ideia de quão imenso e variado era o universo literário acumulado na grande arca em que Pessoa ia guardando os seus escritos ao longo dos anos.

O conteúdo dessa arca – que hoje constitui o Espólio de Pessoa na Biblioteca Nacional de Lisboa – compreende mais de 25 mil folhas, que contêm poesia, peças de teatro, contos, textos filosóficos, de crítica literária, de teoria linguística e políticos, traduções, horóscopos e outros textos sortidos, tanto datilografados como escritos ou rabiscados ilegivelmente à mão, em português, inglês e francês.

Pessoa escrevia em cadernos de notas, em folhas soltas, no verso de cartas, em anúncios e panfletos, no papel timbrado das firmas para as quais trabalhava e dos cafés que frequentava, em sobrescritos, em sobras de papel e nas margens dos seus textos antigos. Para aumentar a confusão, escreveu sob dezenas de nomes, uma prática – ou compulsão – que começou na infância. Chamou heterônimos aos mais importantes desses «outros eus», dotando-os de biografias, características físicas, personalidades, visões políticas, atitudes religiosas e atividades literárias próprias. Algumas das mais memoráveis obras de Pessoa escritas em português foram por ele atribuídas aos três principais heterônimos poéticos – Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos – e ao semi-heterônimo Bernardo Soares, enquanto muitos poemas e alguma prosa em inglês foram assinados por Alexander Search e Charles Robert Anon. Jean Seul, o solitário heterônimo francês, era ensaísta. Os muitos outros alter egos de Pessoa incluem tradutores, escritores de contos, um crítico literário inglês, um astrólogo, um filósofo, um frade e um nobre infeliz que se suicidou. Havia até um seu outro eu feminino: uma pobre corcunda com tuberculose chamada Maria José, perdidamente enamorada de um serralheiro que passava pela janela onde ela sempre estava, olhando e sonhando.

André Luiz abrindo o Baú de Fernando Pessoa

André Luiz abrindo o Baú de Fernando Pessoa

Hoje, mais de 75 anos após a morte de Pessoa, o seu vasto universo literário ainda não está completamente inventariado pelos estudiosos, e uma importante parte das suas obras em prosa continua à espera de ser publicada.

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